CALL PAPERS - 20 de Junho 2023 Nova data
Nos últimos 50 anos, o Brasil reduziu significativamente as desigualdades em dimensões sociais como renda, participação da mulher no mercado de trabalho e acesso a serviços públicos (Arretche, 2018). No entanto, há evidências de que os níveis de segregação residencial aumentaram mesmo quando as desigualdades sociais foram reduzidas (Chetry, 2015; Feitosa et al., 2021; Marques, 2016). Isso sugere que a segregação não é um mero reflexo das desigualdades sociais no espaço urbano e deve ser vista como um processo espaço-temporal complexo que, embora interligado com as desigualdades sociais, apresenta uma tendência de certa forma independente. Sabe-se que a segregação urbana reforça e agrava as desigualdades sociais. Como fenômeno sociológico, dificulta a interação social entre grupos; como fenômeno geográfico, afeta o acesso a oportunidades e recursos urbanos - uma questão que atinge mais duramente os grupos minoritários. Na América Latina, pesquisas sobre as desigualdades e segregação tipicamente se concentram na dimensão socioeconômica, frequentemente representada por grupos de renda. Estudos sobre segregação urbana tendem a enfatizar os espaços residenciais como o locus da segregação, analisar padrões estáticos ao invés de processos dinâmicos e limitar-se a uma única escala de análise.
Avanços internacionais recentes têm ampliado a agenda de pesquisa sobre desigualdades socioespaciais e segregação, apontando para novas perspectivas e abordagens analíticas. Houve uma mudança de paradigma na qual o fenômeno passou a ser estudado através de múltiplas dimensões sociais (ver Boterman, 2012), análises multiescalares, e a partir do entendimento que a segregação deve ser vista como uma experiência individual que ocorre em todo o território urbano. Assim, novos estudos consideram diferentes espaços e atividades, como trabalho, lazer, estudo, transporte e casa, em suas análises.
Embora haja consenso sobre a importância dessa nova agenda de pesquisa no âmbito internacional, algumas dessas abordagens ainda foram pouco estudadas - em particular no contexto brasileiro e latino-americano. Esta edição especial visa preencher essa lacuna e retratar o estado da arte sobre segregação e desigualdades urbanas. Artigos teóricos sobre segregação e desigualdades, bem como estudos empíricos usando novas abordagens são bem-vindos, especialmente aqueles que exploram a relação entre padrões espaciais de segregação e dinâmicas comportamentais, abordando essas questões a partir da perspectiva da política urbana e do planejamento.
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